Para compreender o surgimento do bairro de Itacaranha precisamos compreender um pouco da historia de Salvador:
Mesmo após a adoção
por Portugal do sistema de capitanias hereditárias, o Brasil continuou a
ser fortemente assediado pelos navios da França e Holanda, as quais
não concordavam com a repartição do mundo entre Espanha e Portugal,
oficializado no tratado de Tordesilhas e chancelado pelo Vaticano.
Visando proteger os
seus interesses o rei de Portugal, Dom João III, decidiu centralizar a
decisões da nova Terra nas mãos de um único homem criando o posto de
governador geral do Brasil. Para desempenhar essa missão ele enviou o
fidalgo Tomé de Souza, acompanhado de cerca de 1.000 pessoas, entre
elas 600 soldados, um médico, alguns farmacêuticos e 06 missionários
jesuítas. O sistema de divisão de terras em capitanias e sesmarias foi
mantido e a principal missão de Tomé de Souza era incentivar a
urbanização em pontos estratégicos do Brasil, bem como proteger
militarmente o território das invasões estrangeiras.
A baía de todos os
santos foi descoberta em 01 de novembro de 1501, pela primeira expedição
exploradora após o descobrimento de Pedro Álvares Cabral. Com a adoção
do sistema de capitanias hereditárias, o lote da capitania da Baía foi
doado a Francisco Pereira Coutinho em 1534. Dois anos depois, quando o
donatário chegou ao local para tomar posse, já existia na baía de todos os santos, uma
pequena comunidade de europeus. Nela se destacava Diogo Alves do Santos
(O Caramuru), degredado alguns anos antes e que havia casado com Paraguaçu, a
filha de um cacique tupinambá. Paraguaçú inclusive, já havia adotado o
nome católico de Catarina e tinha com Diogo muitos filhos.
Com auxílio dos
moradores existentes e com a intervenção pacificadora de Caramuru,
Francisco Coutinho fundou a povoação de Vila do Pereira, nas imediações
da ladeira da Barra. Durante um período de paz de quase dez anos,
estabeleceu-se na região a cultura da cana de açúcar com vários
engenhos sendo edificados. A paz durou até 1545, quando um violento
ataque desferido pelos tupinambás, forçou os portugueses a se refugiarem
na capitania vizinha de Porto Seguro. Após uma negociação de paz, em
1547, os colonos naufragaram durante uma tempestade em frente a ilha de
Itaparica quando retornavam a Vila do Pereira. Os sobreviventes foram
capturados e devorados pelos índios, e entre eles se encontrava o
donatário Francisco Coutinho. Diante dessa tragédia, a Coroa Portuguesa
adquiriu dos herdeiros em 1548, as terras da capitania, para implantar
nelas o Governo Geral da colônia.
Cidade de São Salvador
Em 29 de março de
1549, chega pela ponta da barra a comitiva de Tomé de Souza que veio com
ordens expressas do rei, para fundar no local uma cidade fortaleza
chamada de São Salvador. Além
da preocupação com as invasões estrangeiras, Tomé de Souza era
conhecedor da grande belicosidade de algumas tribos indígenas da região.
Por essas razões decidiu-se pela edificação de Salvador na parte alta,
onde havia paredões de até 80 metros de altura. Ele construiu-a
completamente cercada por muralhas, e com canhões direcionados para o
mar.
SOBRE A CARREIRA DAS ÍNDIAS:
Considerada
por uns como a maior consequência dos Descobrimentos, outros há que
destacam o enorme feito que ela representa em termos técnicos e humanos
para um pequeno país como Portugal no início do século XVI. Ao
estabelecer uma ligação anual entre Lisboa e os portos do Oriente (Goa,
Cochim e por vezes Malaca) a Carreira da Índia tornou-se num elo
fundamental na respiração e transpiração quer de Portugal, quer do seu
Império Asiático.
A
nau é o navio por excelência da Carreira, sendo também utilizados
galeões e fragatas (estas apenas nos finais do século XVII e no século
XVIII), bem como, e mais esporadicamente, outros tipos como a urca, a
caravela redonda ou a naveta. O tamanho ou capacidade das naus foi uma
das características que mais alterações sofreu desde a viagem de Vasco
da Gama, com 100t de média até às 200t a 300t com Pedro Álvares Cabral e
às 1000t (1518). É comummente aceite que a média deve ter ficado nas
400t a 600t no século XVI e 800t a 1000t no século seguinte, embora os
exemplos de gigantismo sejam fáceis de multiplicar.
As
tripulações destes navios podiam ir até cerca de 200 homens, embora o
número mais comum seja à volta dos 120 a 150. A este contingente
juntavam-se os soldados ou os simples passageiros o que podia fazer
chegar o total de pessoas a bordo até aos 1000, embora também aqui a
média devesse rondar os 500. No topo dessa hierarquia estava o capitão
que desempenhava funções essencialmente judiciais, militares e
administrativas enquanto comandante supremo do navio. Quem
verdadeiramente governava e conduzia o navio era o piloto. Este era o
posto de maior responsabilidade a bordo, cabendo-lhe traçar a rota com a
ajuda dos regimentos, das cartas náuticas e da observação astronômica e
escrever o diário de bordo. O elemento que se seguia nesta estrutura
era o mestre. Cuidava da manobra dentro do navio orientando e comandando
tanto marinheiros como grumetes.
Os postos
seguintes eram ocupados por uma série de homens do mar que se dividiam
por actividades e funções bem distintas desde o guardião, a
carpinteiros, calafates ou tanoeiros. Com funções não ligadas
especificamente ao mar seguiam o meirinho ou alcaide, o capelão, o
escrivão e um ou vários despenseiros, e por vezes o boticário e o
cirurgião/médico substituído amiúde por um barbeiro que prestava os
primeiros socorros. Depois dos oficiais vinham os últimos três tipos de
homens do mar: os marinheiros, os grumetes que executavam os trabalhos
mais duros e os pajens, geralmente crianças que tinham por função servir
de mensageiros dentro do navio e transmitir as ordens dadas pelos
capitães e oficiais. À parte desta estrutura havia uma outra, a dos
homens encarregues da artilharia, e que era comandada pelo condestável
tendo sob as suas ordens os bombardeiros.
Depois destes,
que constituíam a tripulação, havia muitas outras pessoas que podiam
embarcar. O contingente mais importante era o dos soldados. Com eles
seguiam os fidalgos e nobres que iam assumir cargos administrativos ou
militares. Havia ainda diversos religiosos, as mulheres, homens de
negócios ou simples aventureiros que tentavam no Oriente a sorte que
teimava em escapar-lhes em Portugal. Até escravos podiam embarcar logo
em Lisboa.
Toda
uma quantidade de tarefas deveriam ser efetuadas antes que a partida
pudesse acontecer. Havia, em primeiro lugar, que preparar o navio,
acabando reparações e fornecendo-lhe todo o tipo de materiais
necessários para a viagem, desde velas a mastros e cordame. Depois
tinha-se que nomear e escolher a tripulação. Seguia-se a recolha dos
diversos abastecimentos, desde a alimentação, à água, à artilharia ou à
botica. Por fim registava-se tudo e controlava-se o embarque das
mercadorias com destino ao Oriente, só depois se podia dar a ordem de
partida. Tudo isto era gerido pela máquina administrativa e logística do
Estado onde se destacavam duas instituições: a Casa da Índia enquanto
base comercial, administrativa e de gestão de todos os aspectos
comerciais e financeiros; e os Armazéns da Índia que tinham alçada sobre
toda a logística, fornecendo todos os materiais e produtos necessários
para o sucesso da viagem.